Wednesday, December 05, 2007

tortuosos são os caminhos do senhor

suba até a igreja do nosso senhor do bom fim, ou todas as escadarias da sacre coeur pra ver se não. claro que é premeditado. domingo fiz como reza a cartilha, subi até o monte fourvière, pra ver a basílica de notre damme, no alto da cidade de lyon.

subi as escadarias estreitas da velha lyon, o caminho íngreme até os jardins, e a trilha em zigue-zague ascendente rumo ao céu. a princípio, pensei, pagaria os pecados, se os tivesse. no meio do caminho me assaltou a dúvida, se comer a 8 euros, receber 12 da faculdade, e embolsar 4 euros, se constituiria um pecado...

antes de concluir, cheguei no alto. a igreja é uma falsa construção bizantina – essa colei do meu guia, bem impressionante mesmo. mesmo, as igrejas são feitas pra impressionar. mas depois de córdoba e toledo, o parâmetro fica meio ridículo, mesmo. os padres se superaram lá. a primeira, pela violência, uma catedral com colunas árabes, adeus à maior mesquita construída no sul da espanha, uma aberração arquitetônica emblemática. a segunda, pela beleza gótica, assombrada por gárgulas e torres infinitas.

a vantagem da basílica de fourvière: os telhados de lyon a seus pés e a vista da cidade inteira guardada, ao fundo, pelos alpes, requinte de crueldade: nevados.
pior, a vizinhança: dois anfiteatros romanos, um deles o mais antigo contruído na frança, no ano 15.000 a.c.

pelo sim, pelo não, como estava sem mapa, só rezei pra não me perder nos traboulles – passagens secretas que atravessam quarteirões, e saem... só deus sabe onde.

2 comments:

Roger Jones said...

minha interpretação simbólica é:

você chega ao alto de uma construção falsa para descobrir que os pecados são passagens secretas que atravessam quarteirões de desejos reprimidos...

(hum... tirando meu viés tendencioso de leitura melodramática e francamente cafona, esta abordagem é... é espetacular ! e muito mais profunda do que a minha inteligência pode suportar... disso concluo que estas minhas palavras foram veículo não do meu saber obtuso, ainda que brilhante, mas de algo muito mais grandioso e verdadeiro... algo que "nem deus sabe onde"...)

agora, voltando ao mundo real e falando sério, super sério: o mais belo, intrigante e sofisticado aspecto dessas viagens distantes, é a drástica, estupenda e surpreendente proximidade que ele promove entre nós e nós.

nus de nós e de nossos velhos mundos... na santa pureza de nossa essência...

ou, como dizia o Astronauta:
"a distância é minha última instância de proximidade..."

então parabéns, Larissa, pelas paisagens todas... porque acho que somos autores de tudo que vemos...

:)

larissa bueno ambrosini said...

tu é um querido! além de perspicaz e mil vezes melhor que o MEU poder de sintese...
;)