Wednesday, October 24, 2007

a mongolesa, ou post meteorológico (repetido)*

o inverno chegou bem cedo. não q eu tivesse visto o verão. depois da primavera acachapante. ainda restam rosas obscenamente-desavergonhadamente rubras e muito abertas pelos jardins.

os dias são variações cinzas ton-sur-ton. o céu é baixo. roça a ponta das orelhas.

não, poucos sorrisos. q não me inspiro. evidente, os nórdicos se matam... À C A U S E DU S O L E I L ! ou melhor, por falta dele.
minha amiga mongolesa me sai com essa: “aqui, é a primeira vez q eu vejo negros.”
sorrio: “e o q tu acha?”
“eu gosto!”
agora, posso rir!

* ACESSE... outras sensações térmicas de todos os lugares do mundo. tá, quase todos.

a marselhesa

Aux armes, citoyens !
Formez vos bataillons !
Marchons, marchons !


nada disso, minha vizinha.
85 anos, cabelo escovado, bem maquiada, começa mais-ou-menos-sempre-da-seguinte-forma-gesticulando-muito-e-toda-vez:
“ah, tu mora aqui? (...) eu sou de marselha. meu marido é marselhês! (...) eu morei lá 50 anos. adoro marselha! (...) mérde! - a luz do corredor apaga.
ah, eu também, só usava saia, nessa época. o mistrau* levantava à-to-da-ho-ra, eu xingava: ‘oh, putain-madame-bartin’! (risos) minha sogra não gostava. todo mundo fala assim em marselha! e um dia uma madame perguntou se eu tava falando com ela. (risos) putain de mérde! - a luz apaga de novo.
meu marido era militar, e eu - com cara de malandra - trabalhava fazendo ‘capotes’**!”
(gargalhadas)
e segue...
temos essa conversa toda semana, umas 15 vezes, no mínimo.
com sotaque marselhês, evidentemente.

* nome de um vento noroeste que ‘sopra’ por lá.
** capote = preservativo masculino em ‘linguagem familiar francesa’, camisinha, pra simplificar...

Thursday, October 18, 2007

amor

antes de ontem, durmi com pensamentos ruins.
ontem, meu cavaleiro acordou com pensamentos ruins.
aconteceu na macedônia.
morte é furto infinito.
bouquet de nerfs.
amor são reticências oceânicas.
joana francesa.

"(...) Tu faz muita diferença em minha vida.
Gostaria de dizer isso direto em teu ouvido.
Sussurrando...
(...)
Toujours dans mes bras...
(...)
Edu, cavaleiro-ouvindo-B.-Harper-e-pensando-em-ti."

Tuesday, October 16, 2007

bertrand cantat

saiu da prisão hoje. condicional.
de madrugada. meio escondido.
proibido de proferir palavra sobre a morte de sua companheira, marie trintignant.

eu não consigo não gostar dele.

Thursday, October 11, 2007

sexo anal etc.

biajoni me remeteu a toni bentley. "a entrega" é A apologia ao sexo anal. relato pessoal em forma de ensaio. bom texto, de bom nível intelectual - sem utilizar “membro”, “ânus”, “coito” (esse é horrível), etc., e erótico, aussi.

"a novela marrom", por outro lado, tem cinzas, sim. a crônica não é q seja ligeira. é supersônica. aliás, discurso direto. sem frescura. faz a história andar. e eu me sinto uma idiota resenhando... mas, por exemplo, “sexo anal” se sai melhor q os "... budas ditosos" do joão ubaldo ribeiro, q não teve coragem, ou sei lá - q palavra mais apropriada não me ocorre, de ser oral. e, bom, só deixou as pontas meio desamarradas no fim.

ah sim, ando fumando os 'de liar'. contenção de gastos. a vida q eu pretendo: africa no inverno desse continente, e moscou, no verão... só...

haja mitocôndrias pras minhas asas.

Friday, October 05, 2007

cotidiano

faz dois dias que escuto “simply simone” e me dou ao luxo de ter cinco livros - de literatura, economia na cabeceira da cama, ainda não - começados e espelhados pelo quarto.

um deles chegou pelo correio ontem (cavaleiro-fedex!): "onde andará dulce veiga?", do caio f. abreu - que estreou no cinema essa semana, pelo diretor guilherme de almeida prado - diz que... ele não pegou o fio da meada. moi, não vi, je ne sais rien...

li e reli "morangos mofados" chegando das férias. quatro dos contos são primorosos. em geral, prefiro caio-terceira-pessoa-do-singular. ele "doma" o narrador, segura as rédeas do texto e pega os personagens com mão-de-ferro. como ensinava quiroga. irretocável. não sobra nada. nem falta.

"sexo anal", do biajoni é outro que frequenta, bem e à jato, mon chambre. sua 'novela marron' foi comparada a"o casamento", do nelson-anjo-pornográfico-rodrigues. desconcertante. o tiagón disse: 'narrativa rápida – seja lá o que isso signifique'. eu lembro de ‘outro nelson’, "núpcias de fogo", publicado sob o pseudônimo de susana flag. preto é preto, branco, vocês já sabem, e o cinza do not exist. o que interessa é a trama.

os outros... um livro idiota, mas de francês muito palatável que não guardei nem o título, nem o autor. quignard, agora, antes de durmir, cai bem.

e guimarães-com-tempo-e-cabeça-fresca-rosa foi passear em montpellier e voltou virgem. tivemos dez dias e tal, li todas as orelhas, notas, prefácios introdutórios, poesias acessórias, coisa-que-eu-faço-sempre-depois-de-ler-o-livro-porque-não-tenho-a-menor-paciência-pra-fazer-antes... mas, convenhamos não dá pra reler a “terceira margem do rio” instalada na sala de um studio habitado por mais duas personas ouvindo em francês, inglês, ah-é-?-e-o-teu?-ah-o-meu-também!-filho-da-puta!, tim-tim, dá-pra-fumar-no-balcão-ah-e-fecha-a-porta? isso era pra mim...