Monday, November 27, 2006

distocia

os homens dizem tanto.
cedo.
eu não entendo
cedo,
eu digo tanto.
mas tenho palavras
q dançam por dentro,
cinzas.

Tuesday, November 21, 2006

'cotidiano', ou 'a pedido'

A mesa está posta para o café-da-manhã. Roberto senta-se. Veste terno e pantufas. Carrega o "Púcaro Búlgaro" nas mãos. Durante o trajeto do banheiro até a mesa, Laura o observara com um sorriso no rosto.

O sorriso dela é natural. Demais. Ele toma um gole de suco de laranja, pega o livro. Com licença. E volta para o banheiro. Puxa a tampa do vaso sanitário e senta-se. A toalha está no chão. Ele poderia usá-la mais uma ou duas vezes sem problema. Ela não comentou sobre o livro. Virou a cabeça de lado para ler o título e fez um arco com a sobrancelha. Será que conhece Campos de Carvalho?

Libertar o homem de sua existência utilitária. Subverter a razão e o bom gosto, a família, o trabalho e a honra. Bobagem. Quem quer ser libertado do quê? Será que ela pensa que existe algo além da realidade?

Levanta-se do vaso e olha pela janela. Tranca a porta e volta a sentar-se. Ela tinha um cheiro gostoso e estuda... psicologia, sociologia, matemática? A paisagem é confusa, edifícios, casas de residência, pátios internos com cachorros, crianças, varais, casas de comércio e letreiros, transeuntes e automóveis, ônibus e mulheres. Há quanto tempo estou aqui trancado? Será que ela ainda está aqui? Claro que sim.

Laura havia retirado a louça suja da mesa e fumava na sacada, com as pernas esticadas ao sol. Ele acha engraçado o ‘R’ bordado no roupão que ela usa. Poderia ser Roberto. Ela comenta algo sobre o sol, com o mesmo sorriso. Natural. Ele pede licença, precisa dar alguns telefonemas. Tudo bem? Tranqüilo.

Ele fecha a porta do quarto. Pega a carteira de Parliament na cômoda e risca o fósforo azul. Abre a janela e traga a noite. As manhãs são como tumores. Um risco inerente ao vício. Será que ela está na sacada? Claro que sim.

Eu preciso sair, minha reunião foi antecipada. Ela se ajeita na cadeira. O que quer que eu faça? Espero aqui, ou volto mais tarde? Ele sente-se um idiota. Pode ir. Está bem assim. Ela ergue uma das sobrancelhas. E a grana? Vai querer a metade de volta? Ele dá de ombros. Tudo bem. Eu já lhe disse, está bem assim.

(*) mote: francis rigotto [não, não tem parentesco. aparente, ao menos.]
(**)a pedido da alessandra, ma chère ami.

Friday, November 17, 2006

os gauleses


querido douglas (de barba + óculos) q está fazendo filme-documentário - ó códice e o cinzel - sobre o universo literário do nosso mestre assis brasil... me manda fotos da gravação q fizemos na praça da matriz por esses dias, quase noites...

eu to apostando no faraco! firmente! fora os animais todos q deixaste encantados pelos campos de caçapava!

felipe, o dos caracóis, bernardo, o soridente, vanessa, de rosa-xoque, não provoque, e moi, feliz - abaixo do mau tempo e tudo!

p.s. foto by "namorido da vanessa".
p.p.s. 'namorido' é uma espécie de híbrido q nasce do cruzamento de duas linhagens de uma mesma espécie [namorado+marido].

Thursday, November 09, 2006

descamponeses. ou recomendação. ou... fazendo cortesia com o chapéu alheio....

ah sim. poeminha do mia couto - q havia lido em crônicas e despoemas. para só então ser levada à 'terra sonâmbula', empilhada das melhores recomendações. minha companhia de trens e ônibus em além mar. e claro que eu chorei.
então, algo q vale uma leitura por essas paragens cibernéticas e azuis...

Governado pelos Mortos
(fala com um descamponês)

Mia Couto

Os mortos perderam acesso a Deus. Porque eles mesmo se tornaram deuses. E têm medo de admitir isso. Querem voltar a ser vivos. Só' para poderem pedir a alguém.
– E estes campos, tradicionalmente vossos, foram-vos retirados?
– Foram. Nós só' ficamos com o descampado.
E agora ?
Agora somos descamponeses.
- E bichos, ainda ha' aqui bichos ?
- Agora, aqui, só' ha' inorganismos. Só' mais lá', no mato, e' que ainda abundam.
- Nós ainda ontem vimos flamingos...
- Esses se inflamam no crepúsculo: são os inflamingos.
- E outras aves da região. Pode falar delas ?
- Antes de haver deserto, a avestruz pousava em arvore, voava de galho em flor. Se chamava de arvorestruz. Agora, ha' nomes que eu acho que estão desencostados...
- Caso do beija-flor. E' um nome que deveria ser consertado. A flor e' que levaria o titulo de beija - pássaros. ...

Wednesday, November 08, 2006

arroz e feijão

ainda não faz uma semana que o menu é servido na capital da província boi. e tudo o q eu não temi, e é o único medo q aflige os gauleses da aldeia de asterix, obelix, panoramix, idéiafix... acontece: o mundo está caindo sobre a minha cabeça.

evidentemente q numa hora urgente como essa, não há tempo para escolher as palavras mais adequadas, precisas ou sonoras. poesia? eu colei herberto helder na porta da minha geladeira. e tenho um amor... au revoir.