Friday, April 21, 2006

da desnecessidade de escrever

trechos de polzonoff.
não é novo o q ele diz, cortázar já se justificou pela necessidade, premente, com amargura, muita.

e hj 'todo mundo' escreve... inclusive eu - embuste, não me iludo. mesmo.
talvez vivamos um obscurantismo às avessas. informação 'de mais' e 'de menos', inutilidades e obviedades. se nada tem a dizer, duas opções: fique calado, ou vire colunista da zh, publique livros, figure na lista dos mais vendidos. algo há errado - comigo, claro.

"Pela primeira vez em anos estou me sentindo confortável com o fato de não estar escrevendo ficção. Acho que entendi o hiato: ele é fruto da desnecessidade. Para ser um escritor é preciso cumprir dois requisitos. Um é trabalho, sem o qual a obra será para sempre um rascunho. O outro é a necessidade. [...]

A vida tem caminhos e descaminhos e eu nunca tive medo de trilhá-los. Andei por pontes caindo aos pedaços, sobre precipícios sem fundo; andei por desertos e por florestas densas, onde a luz do sol não entrava; andei por crateras imensas e também sobre o topo das maiores montanhas. Vivi. E no percurso da vida acho que os manuscritos se perderam. Ainda bem.

Tenho uma relação muito tensa com o que escrevo. Mais tensa ainda com o que escrevi. [...]

Hoje eu olho à minha volta e o que vejo são poetas demais e escritores demais. São poucos, pouquíssimos, os que têm algo a dizer. Vou à livraria e as vejo abarrotadas de volumes que ninguém vai ler – simplesmente porque são desinteressantes ou escritos por gente que sabe compor uma frase, ainda que ela seja totalmente vazia de vida. Numa mente mais, como direi?, cheia de si, tal constatação poderia servir de estímulo. Como se eu batesse no peito e dissesse que seria diferente – e melhor. Mas não é assim que funciona.

Não sinto necessidade alguma de escrever. Até tenho histórias para contar, mas elas amadurecem num compartimento secreto da minha mente. Não as contarei até que as possa rechear de vida. Além disso, preciso encontrar na escrita a tal da obsessão, que se origina na necessidade. Enquanto eu continuar me sentando para escrever pensando no que será do meu almoço, nada serei senão um mero leitor. O que não é de todo mau."

por: polzonoff, q prepara ensaio sobre michel houellebecq...

2 comments:

Anonymous said...

Oláa....passei por aqui e adorei esse texto. Quando tiver tempo leio os outros do blog. :)

Bjões!!!!

larissa bueno ambrosini said...

gracias pela visita.
link no polzonoff. e pra quem diz q ele não gosta de nada... ele gosta do calvino - e 'o visconde partido ao meio'. maravilha. mas prefiro 'o cavaleiro invisível'

bjs!
larissa