Tuesday, July 18, 2006

Eu entrei, não porque gostasse do lugar, nem pela comida, não porque eu conhecesse o dono, nem seu único cliente. Triste estar vazio. Mas seria absurdo que estivesse cheio.

Tomar algo era uma distração que me serviria de momento. O rádio tocava músicas com temas amorosos. Terrível. Algumas canções eu conhecia, mas não fazia questão. A sintonia era péssima, chovia dentro do rádio. Quando Nelson Gonçalves cantou “Boneca, noturna / Que gosta de lua / Que é fã das estrelas / Que adora o luar”, desejei uma noite de sol para lhe ouvir. Depois, que chovesse, que caísse neve e temporal. E choveu. Do rádio chovia, chovia nas ignominiosas canções de amor, na chamada esportiva, no boletim meteorológico, no plantão policial que iniciava às três da madrugada, na medonha seleção musical dos ouvintes...

Olhei para o meu copo. Já havia me distraído o suficiente. Juntei minhas pernas e saí. Lá fora, amanhecia.